Em uma era de avanços médicos sem precedentes e uma crescente obsessão com o bem-estar, uma tendência preocupante tem se destacado: a medicalização excessiva da vida cotidiana. Este fenômeno, amplamente impulsionado por uma minoria numerosa de profissionais de saúde, não especialistas e alguns especialistas nas áreas de performance, neurologia, nutrologia, medicina esportiva, e estética, tem transformado pessoas saudáveis em pacientes crônicos, perpetuando um ciclo de dependência de medicamentos e suplementos desnecessários.
A Ilusão da Perfeição Médica
“No excesso de busca pela saúde, está o início da doença.” – Um provérbio chinês que alerta sobre os perigos da obsessão por uma saúde inatingível. A busca incessante por uma condição física e mental perfeita nos leva a um ciclo vicioso de constantes preocupações com a saúde, onde a normalidade é frequentemente vista como insuficiente. Nesse contexto, a medicina preventiva, embora essencial, é por vezes distorcida, transformando a precaução em paranoia.
O Impacto na Identidade e Autopercepção
“Eu não sou o que aconteceu comigo, eu sou o que escolho me tornar.” – Carl Jung. Esta citação nos lembra que nossa identidade e bem-estar não devem ser definidos por diagnósticos médicos ou a percepção de doença. A medicalização excessiva pode levar os indivíduos a internalizar um papel de paciente, mesmo na ausência de sintomas reais, afetando negativamente sua qualidade de vida e autopercepção.
A Armadilha da Medicalização Excessiva
Muitos profissionais de saúde, movidos talvez por um zelo excessivo ou por conflitos de interesse, têm prescrito uma quantidade alarmante de exames, tratamentos, medicamentos e suplementos desnecessários. Pacientes são frequentemente levados a crer que estão à beira de uma enfermidade, baseados em resultados de exames que, embora dentro da normalidade, são interpretados como prenúncios de doenças futuras.
Eis o problema da medicalização excessiva: a criação de “doentes” a partir de indivíduos anteriormente saudáveis, fixando-os em um estado perpétuo de busca por soluções para problemas muitas vezes inexistentes. Trata-se uma prática frequente nos dias de hoje, na qual profissionais de saúde prescrevem um arsenal de exames, medicamentos, e suplementos com uma frequência e em quantidades que desafiam a lógica médica e ética, baseando-se em resultados que, apesar de normais, são interpretados como anômalos.
Essa prática não só sobrecarrega os pacientes com a ansiedade por medo de uma saúde precária, mas também os empurra para tratamentos e suplementações sem necessidade real. Anabolizantes, esteroides, modulação hormonal, terapias injetáveis e uma infinidade de vitaminas entram em cena, muitas vezes por interesse financeiro dos prescritores do que por benefício real aos pacientes.
A Verdadeira Essência da Saúde
“Saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doença ou enfermidade.” – Organização Mundial da Saúde (OMS).
“Saúde não é a ausência de doença, mas sim uma expressão de harmonia no corpo, na mente e no espírito.” – esse dizer, definido por inúmeros pensadores ao longo da história, aliado ao conceito da OMS, refletem o verdadeiro significado de saúde.
Neste contexto, é crucial lembrar que a saúde verdadeira se constrói sobre fundamentos básicos: alimentação equilibrada, atividade física regular, hábitos de vida saudáveis, sono de qualidade, redução do estresse e manutenção de relacionamentos positivos. Estes pilares, muitas vezes negligenciados, são mais eficazes na promoção da saúde do que qualquer suplemento ou medicamento prescrito sem necessidade. Essas práticas fundamentais, muitas vezes ofuscadas pela busca incessante por soluções rápidas e superficiais, formam a base de um bem-estar autêntico e duradouro.
O Perigo dos Interesses Ocultos
“O amor ao dinheiro é a raiz de todos os males.” – uma interpretação de 1 Timóteo 6:10, pode ser vista refletida na prática de prescrições exageradas para claros ganhos financeiros.
Infelizmente, o conflito de interesse é palpável quando profissionais de saúde beneficiam-se diretamente da venda de medicamentos manipulados, alguns injetáveis, incentivando uma cultura de consumo exagerado que não apenas questiona a integridade ética da profissão, mas também coloca em risco a saúde dos pacientes.
Chamado à Autenticidade e Integridade
“Sê fiel ao que existe dentro de ti.” – André Gide. Este chamado à autenticidade é um lembrete para profissionais e pacientes permanecerem verdadeiros aos princípios fundamentais da saúde e bem-estar, resistindo às pressões externas da indústria farmacêutica e das tendências médicas passageiras. Profissionais de saúde devem se dedicar a práticas baseadas em evidências e integridade, priorizando o verdadeiro bem-estar dos pacientes sobre qualquer outra consideração.
Chamado à Reflexão e Ação
Como clínico e neurologista, testemunho em minha prática diária as consequências dessas práticas: pacientes atendidos com complicações decorrentes do uso inadequado de suplementos e medicamentos. Irritabilidade, insônia, crises de pânico e ansiedade, depressão, hipertensão arterial, taquiarritmias, doenças hepáticas e renais, e até mesmo acidente vascular cerebral são riscos potenciais reais! Estes pacientes, muitos com elevado nível sociocultural e intelectual, são levados a acreditar que estão tomando atitudes proativas em relação à sua saúde, quando na verdade estão sendo explorados por uma minoria de profissionais com práticas questionáveis.
É imperativo que tanto pacientes quanto profissionais da saúde façam uma autocrítica e reflitam sobre essas práticas. A medicina deve ser exercida com o interesse principal voltado para o bem-estar do paciente, e não como um meio de enriquecimento ou para obter resultados imediatos a qualquer custo.
“Seja a mudança que você deseja ver no mundo.” – Mahatma Gandhi, nos lembra da responsabilidade individual na promoção de mudanças positivas.
Lembro a todos da importância de reavaliarem suas práticas de saúde, sejam elas pessoais ou profissionais, e a buscar uma abordagem mais balanceada e consciente. Para aqueles que se sentem sobrecarregados pela medicalização, lembrem-se de que você tem o poder de buscar segundas opiniões, questionar prescrições e escolher um caminho que valorize a totalidade do seu bem-estar.
Conclusão
Em resumo, é crucial reconhecer e combater a tendência da medicalização excessiva, retornando aos fundamentos da saúde verdadeira. Ao fazer isso, podemos não apenas evitar a criação desnecessária de “doentes”, mas também promover um bem-estar autêntico e sustentável para todos.
A verdadeira medicina se fundamenta no cuidado, na prevenção, e na promoção de um estilo de vida saudável, não na criação desnecessária de doenças. Que possamos, juntos, promover uma saúde baseada em evidências, ética e, sobretudo, na humanidade.
Encorajo todos a buscarem sempre uma segunda opinião diante de diagnósticos duvidosos ou prescrições excessivas. Como parte de meu compromisso com a saúde neurológica e bem-estar, estou à disposição para esclarecimentos, segundas opiniões, e revisão de condutas medicamentosas questionáveis.
Dr. Felipe Ibiapina dos Reis
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